Aprendendo a Viver
Assim segue a alegria, a tristeza, a dor e o prazer.
Você se descobre individual. Querer algo faz parte. Lutar por ela também. Mas saber viver sem... também.
Não haverá o dia em que você terá que abdicar de tudo? Um dia teus olhos podem te faltar, e você terá que aprender a viver sem eles.
Um dia você pode ficar entrevado em uma cama, sem poder mover pernas e braços. Mas poderá pensar a respeito disso. E se você digerir o que está ocorrendo, poderá saber viver com isso.
Um dia alguém amado pode te faltar. E como não sabemos que esse dia pode chegar, não é?! Porque se encontramos o amor verdadeiro, das duas uma: ou partimos antes, ou partimos depois. Mas uma coisa é certa: se o amor era verdadeiro de um dos lados, esse lado sentirá falta. E terá que saber lidar com isso.
Venho passando aos poucos pelos três exemplos acima. E sabe? Não é tão horrível assim. Assim como pode-se achar método e sentido até na loucura, pode-se encontrar regozijo na dor e desesperança.
Novos dias vem e vão. Novas benesses e maldições surgirão. Logo o frio e a solidão de uma noite serão só lembranças. Há um deus ou deuses por trás disso? Quem saberá dizer? Ninguém foi e voltou para nos contar.
Mas isso é o que importa? Não será mais importante ter fé do que esperar encontrar algo um dia?
Que valor tem sua fé se você espera algo em troca dela um dia? Então não se trata de crença. Se trata de um acordo que você fez. Acordo bem estranho, por sinal, já que só você assinou. Cadê a tua via desse contrato, com a rubrica da tal entidade fiduciária?
Agora é ateu aquele que assim vê as coisas?
Claro que não! Ter fé é algo inexplicável. É arrancar forças de onde nada havia. É poder transformatório, é um calor que alguns emanam e que é capaz de aquecer até os que o rodeiam.
É o cair com a cara no chão, respirar, olhar para o horizonte e dizer que não acabou.
É ouvir o gongo soar e dizer "Ainda não acabei..."
É sentir as mãos do juiz te apartando da luta, te afastando de seu oponente enquanto o sangue embaça sua visão e ainda ser capaz de bradar "Quem é você que se acha no direito de declarar minha derrota? Não vê que respiro, levanto, encaro meu adversário e ainda faço escárnio de sua autoridade? Me expulse e processe mais tarde, mas ainda tenho algo a tratar. Não me incomode por agora!"
E pode haver algo mais belo para contar aos que ficarem do que tua luta, seja por suas palavras ou as de outro?
O que impulsionava Dom Quixote contra gigantes imaginários?
Fé.
No quê? Foda-se no que. Encontre a sua, entenda que ela é uma centelha inexplicável e ela não precisará mais de clérigos.
Apenas não se junte aos filhos de Narciso e ache que a fé vem de você mesmo. Ela é inexplicável e funcional apenas enquanto você acreditar nela e não se crer sendo ela.
A dor passará? Talvez um dia. Talvez nunca. Mas sofrer... bem, isso você escolhe. Você escolhe sofrer inclusive quando vira para o lado e resolve dormir mais um pouco. E dormir mais um pouco. E o sofrimento te permeia até que você resolva bradar e continuar.
Continuar sua luta, que pode ser por novos mundos ou pode ser pela reconquista daqueles que te furtaram. Vai tudo depender da sua escolha. E de qual mundo vai te aceitar.
A dor segue assim.
Segue assim a tristeza.
O prazer assim segue.
E a alegria... bem, essa nos visita algumas vezes.