O Juízo Legítimo

Gelo, gelo e gelo. Um mundo todo feito de gelo. Nenhum homem ou mulher sobrevivera ao holocausto. Apenas alguns animais.

Aural, uma coelha pequena, nasceu e  foi renegada pelos pais coelhos. A mãe coelha vivia preocupada com a páscoa e o pai, bom, ele não aparecia mais. E ela viveu sozinha. Não conhecia muito outros seres, mas sabia que era uma coelha. E decidiu ser uma boa coelha.

Passou a viver em comunidade com outros coelhos e coelhas. Juntos formaram uma sociedade. Cultivavam cenouras, criavam tocas e faziam mais coelhinhos.

Mas Aural queria conhecer mais o mundo. Em um dia muito gélido, resolveu conhecer Eti, uma parte da floresta em que ninguém ia.

Poucos minutos após entrar nela, ouviu um rosnado. Olhou para trás e viu um grande urso pardo. Ambos correram.

A coelhinha sabia que era menos veloz. Desviava de caminho para despistar o urso. Neve espirrava das patas de ambos. Ela entendia que tinha entrado em um território que não era dela e tinha que sair dali. Mas a cada curva, o urso a encurralava. Mas a coelha era tão rápida em fazer curvas, fez o urso bater a barriga em um galho e se machucar. Um galho entrou em sua barriga.

Ela acelerou o passo, mas em uma dobrada entre árvores, ela deu de cara com um tigre enorme, olhando para ela.

Se ela fosse uma mulher, pensaria “quatro patas de coelha não me deram muita sorte”, mas como ela não era, mudou de direção e voltou a correr em disparada. Corria como nunca correra, mas sentia o bafo do tigre em suas costas e pompom.

Até que a pata a tocou. Ela rolou na neve e viu o tigre sobre ela.

Ouviu o ronronar lento próximo a seu nariz. A baba de seu focinho pingou sobre ela. Suas patas se encolheram, as orelhas encurvaram. Pensou na prole.

Ouviu outro rosnar. O urso agarrara o tigre pelas ancas. Como se fosse um papel, o jogou ao longe. Se aproximou dela manco, com seu sangue pingando na neve. Olhou furioso para ela e então se jogou a seu lado. Ela tremia. Ele a aproximou de seu corpo com uma pata e a envolveu. Ele fechou os olhos e perguntou:

- Vou ser o café da manhã?

- O tigre está morto. Descanse.
A coelha encaixou a cabeça no peito do urso. Ajeitou as orelhas para trás e dormiu se sentindo segura.

.