R. & J.
Quem não quer alguém para dividir?
Quem não quer ter com quem contar?
Quem não quer não se sentir sozinho?
Quem não quer ser amado?
Mas quando Romeu e Julieta morreram
Antes da primeira conta
Quem se deu conta de que nem tudo são flores?
Quem assumiu sua culpa?
Quem baixou a guarda e abriu mão do orgulho?
Quem fechou o livro
E descobriu que não há conto de fadas?
Houve quem quisesse mais
Houve quem quisesse ser dono
Dono do outro
Dono de seus desejos
Dono da verdade alheia
Sonhar a felicidade é a parte doce
Fantasiar o amor perfeito infla o peito
Fingir o belo é a obra prima em si
Fazer e acontecer são só a porra da parte dura
Bater com a realidade dói
Sentir as falhas alheias machuca
Olhar para si é desnecessário
Àquele que sabe sua verdade
Como absoluta
Você nunca quis mais poder?
Tudo poder e ter sua própria lei?
Você nunca sentiu o poder te embriagar
Antes de te corroer?
Corpos nus sob lençóis nunca machucam
Até que sejam vistos
Marcas ficam para sempre
Não por marcarem
Mas porque nosso orgulho pede por isso
Beber até a última gota de prazer
Desfrutá-la com discrição
Ter o prazer secreto
Isso a todos satisfaz
Até a culpa acordar à luz de olhares
Tudo muda de figura
E o que valia para um
Não vale para o outro
Porque a lei íntima é suprema
E a criatura dita feita à imagem do criador
Não se dá conta de que ela fez seu criador à sua própria imagem
Assim continua o pobre na labuta
Assim continua o amante sofrendo
Assim fica o rico soberbo
Assim fica o amado sem ser acariciado
E o mundo não parará
Nem para perguntar como você está
Nem para contar se quantos foram
Bate com quantos voltaram
Seja para a batalha
Seja para mais um dia