Pathé de cabelos curtos

Pathé agradecia por usar um corte curto de cabelo. Facilitava colocar o capacete de oxigênio. A

 deixava mais livre. A caverna era quente e escura. Roccie estava caído, desmaiado, dois níveis abaixo. Seu rádio handset não parava de apitar sinais de aviso. E por cima ainda havia a voz de Madaleine.

- Sai daí. O ar é tóxico. Os níveis de radiação estão aumentando.

- Mada, meu marido está aqui. Eu vou tira-lo a qualquer custo.

- Você é idiota? Você não tem oxigênio pra chegar até ele. Na verdade você tem, mas não o suficiente para vocês voltarem.

- Mada, como foi dormir com meu marido?

Madaleine gelou.

- Eu não sabia que vocês estavam saindo.

- Saindo? Estávamos nos casando. Você é que estava saindo com ele.

Madaleine se perdeu em seus pensamentos. Sentira algo por Roccie, já tivera amizade e confidencialidade com Pathé. Mas aquele momento era extremamente único. Queria apenas se concentrar nos detalhes técnicos para salvar Roccie. Queria não pensar na traição.

- O ar aí em baixo está muito tóxico.

- Ele tem a célula de sobrevivência no traje e eu tenho um tanque de oxigênio a mais. Vou arrastá-lo até o elevador e você vai ativá-lo.

Ela falava sobre o elevador Z. Era o último que alguém da equipe poderia ativar. Era usado apenas para a retirada de material radiativo. Levava apenas carga, seres humanos não o usavam.

- Você vai foder meu emprego!
- Você fodeu meu casamento!

Pathé encontrou Roccie e o arrastou até o elevador. Olhou em seu braço o monitor de sistemas. Não haviam batimentos e nem oxigênio. A porta se fechou.

- Há nitrogênio e gás carbônico demais aí!

Pathé não conseguia mais sentir ódio. Tinha o marido desmaiado a sua frente e uma mulher falando asneiras em seu ouvido. Pensar, pensar, pensar... tenho pouco a fazer...

Curvou-se e ouviu o vidro de seu capacete bater contra o dele.

- Eu vou tentar três vezes, meu amor – seus olhos brilhavam.  Ela não pensava mais em seu relacionamento. Só não queria errar a quantidade de oxigênio e explodir tudo.

Ela mexeu nas válvulas de ar. Dela, e depois dele. O ar do capacete dela era praticamente só oxigênio. Ela desencaixou o capacete dele e depois o seu, vagarosamente. Apenas uma pequena faísca de estática explodiria tudo..

Colou os lábios sobre os deles e expeliu. Recolocou o capacete em si e nele. Esperou a recompressão. Repetiu o ato.

Depois da terceira vez, ela desistiu.

- Os níveis de CO2 estão muito altos. Vão te intoxicar.

Estava sentada, dentro do traje, vendo o marido morto.

E lhe deu uma porretada no peito. Caso você não saiba o que é isso, consiste no ato de fechar a mão e a bater sobre alguém.

Roccie abriu os olhos e respirou de forma acelerada.

Madelaine disse:

- O ar de vocês está muito tóxico!!!

Pathé olhou para Roccie, apertou o braço dele e falou ao rádio:

- A única coisa tóxica aqui é sua voz, vaca!
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by Robinson