A Cuca

A Cuca
A Cuca é provavelmente o ser mais besta que passa pelo imaginário infantil. Como ela é? Me descreve ela? É um jacaré que anda em duas patas, um monstro disforme ou a Xuxa sem Cicatricure??
Essa última imagem vai me perseguir o resto da noite...
Voltemos a Cuca. É a coisa mais horrorosa do mundo. Quando somos criança, tudo nos amedronta. Mas aquilo que não sabemos o que é, aquilo que não vemos, consegue ser mais assustador.
Eu tinha uns seis anos quando a vi pela primeira vez. Lembro que gritei e corri da cozinha. Era um dia frio como hoje, todo nublado. Eu associei a imagem dela a um lobisomem. Ela não era assustadora. Era apenas a coisa mais assustadora que eu já vira. Hoje é o dia em que a vi pela segunda vez. Vamos aos fatos:
Eu estava desmaiado em um quarto de hotel, caído no chão. Minha menina tentava me acordar. Era noite e o vento castigava as janelas. Minha menina – um dia falo o nome dela – bateu no meu rosto.
- Acorda, ela tá aqui!
Me levantei com medo.
- Quem?
- A Cuca! Ela tá andando pelo corredor e batendo nas portas. Ela tá atrás da gente.
Ela de novo. Meu pesadelo estava novamente atrás de mim.
- Como a gente vai sair daqui?
- Calma, ela quer a mim.
- Meu homem – um dia também vou dizer esse nome – ela vai comer você e depois eu!
Pensar.
- Ela não existe. É coisa da nossa imaginação, da nossa infância! Apenas uma fantasia!
- Essa fantasia tá batendo de porta em porta nos procurando. Quer ir lá explicar que ela é uma fantasia?
Pensar e pensar.
- Ela é fruto de quando éramos crianças. Vamos sair juntos daqui. Mas pense comigo. O que podemos usar contra ela? Ela tem medo de coisas que fazemos.
- Tipo o que? Bater de porta em porta?
- Ela tem medo até de nosso xixi. É só mijar nela.
Minha garota me olhou com descrença. Pensei “Ótimo, acredita na Cuca mas não em mim!”
- Eu não vou mijar nela!
- Caga nela, então, se preferir. Eu vou abrir a porta e vamos correr pra escada.
Durou poucos segundos. A Cuca me agarrou pelo pescoço e chacoalhou. Quando acordei, estava caído em um canto do corredor. Minha menina estava agachada do outro lado, tremendo de medo. A Cuca  estava sobre mim, me encarando, babando no meu rosto. Pensei em como mijar ou cagar nela. Piada mental “só se eu esfregar minha calça nela”.
Ouvi uma sequencia de barulhos. Socos. Minha menina estava socando a Cuca pelas costas. Ela tomou um tapa e caiu no outro canto. O monstro se debruçou sobre ela. Eu estava praticamente desmaiado. Só conseguia observar.
- Eu sou criança. Você não pode fazer nada comigo!
- É meu prato preferido.
Em meu íntimo sabia que ela tinha entendido tudo.
- Vai mijar em mim?
Minha menina me olhou. Havia um monstro sobre ela. Mesmo assim, ela conseguiu me olhar. A ouvi puxar o ar profundamente, encher a boca e cuspir na cara da Cuca.
- Toma!
A fera se levantou, bailou tonta e então caiu morta. Minha menina correu até mim e me ajudou a levantar. Olhou nos meus olhos e disse:
- Que cheiro é esse?

- Nem te conto....aa

Postagens mais visitadas deste blog

A Sorte

Carol

A VERDADEIRA