Pathé Encontra James

As paredes do corredor eram extremamente claras e limpas. Era um presídio enorme, mas ela sabia que chegara ao local certo. Havia guardas usando uniformes militares. Todos estáticos, lhe lembravam os guardas do antigo palácio da família nobre britânica. Havia um enorme corredor a sua frente. Não havia celas. Mas ela viu uma no fim do corredor. Ela sabia porque só havia uma cela.
Era um presídio para apenas um homem.
Não fora fácil entrar e seria muito mais difícil sair. Pathé se sentia estranha usando aquele uniforme de enfermeira. Sentia-se estranha, também, por estar em um corpo tão maior e mais gordo que o dela.
Passou por um guarda com um fuzil pendurado às costas. Este lhe disse:
- Sarah, pode me pegar algo para dor nas costas?
Ela olhou para ele e conteve sua raiva. Adquirira uma aversão muito grande aos chineses.
- Estou indo ver o prisioneiro. É a hora de ele tomar seus calmantes.
- Um deles não me tiraria as dores?
Pathé esboçou um leve sorriso.
- Qualquer um que eu lhe desse, te deixaria dormindo por uma semana. São como anestésicos para elefantes. Procuro algo para você mais tarde.
O guarda assentiu com um gesto de cabeça.
Pathé seguiu pelo corredor. Na porta da cela, digitou a senha para abrir a porta. Notara que Sarah não sabia a senha, e mesmo assim ninguém a questionara.
Sentiu-se inflada de emoções ao ver o homem que dormia no canto da cela. Já dormira na mesma cama que ele. Agora o via como um pai. Raciocinou que ele era na verdade avô de seu filho, agora. Ele lhe parecia tão jovem. Sentiu uma ponta de inveja de não ser uma Titã. Todos eles pareciam não envelhecer.
Foi até o saco de soro ao lado cama. Pegou uma seringa em seu bolso do avental. Enfiou a agulha na mangueira de suprimento.
Localizou a câmera de vigilância e posicionou-se abaixo dela. Sabia que havia espaços de 60 segundos entre cada foto que ela batia. Fora uma exigência do Conselho que James não fosse filmado o tempo todo.
Voltou a contagem mental que fazia para saber o intervalo da câmera. O acompanhara desde que entrara no corpo de Sarah. Não lhe incomodava pensar em várias coisas ao mesmo tempo, mas sabia que devia tomar cuidado. Podia estar errada por dois ou três segundos.
Olhou novamente para cima e sentou-se ao lado de James. Tocou sua testa. Ele estava frio. Chamou-o pelo nome e o chacoalhou suavemente.
Nada
Repetiu o gesto mais duas vezes.
Levantou-se e escondeu-se embaixo da câmera. Contou o tempo. Deixou um intervalo de um minuto à mais. Estava sentindo medo.
Sentou-se novamente ao lado de James.
-Acorda!
Ele a olhou. Não parecia mais o mesmo homem. Tinha o olhar vazio. Estava completamente dopado. Doeu-lhe na alma ver o homem mais impressionante que conhecera sem consciência.
-Eu preciso que você me ouça!
Nada.
Ela o agarrou pelos ombros e o chacoalhou. Gritou seu nome. Os olhos dele se abriram a a miraram novamente.
- O que você quer, dona Sarah.
Ela comprimiu os lábios e conteve as lágrimas.
- Eu preciso que você me ouça!
Ele reabriu os olhos e mais uma vez os fechou, como se desfalecesse.
Ela teve que se levantar e se esconder da câmera novamente. Voltou ao lado da cama, mas dessa vez se ajoelhou ao chão.
-James, nós precisamos voltar.
Os olhos dele se abriram. Ele a olhou e suas retinas se contraíram ao vê-la. Seu cenho se fechou, suas sobrancelhas desceram.
-Pathé?
Ela despejou tudo que precisava lhe dizer. Estava quase aos prantos.
- Nós todos precisamos voltar. Eu não sei como fazer isso, e você é o único que pode fazer algo a respeito. Você está dopado o tempo todo. Em uma cama, no meio de um presídio. Filipi deixou de fazer contato com todos há meses.
Aquele olhar sumiu novamente de seus olhos. Ficou vazio novamente.
Pathé repetiu o ritual de se esconder.
Voltou e disse:
-Você tem que me ouvir. Eu não sei como você vai sair daqui. Eu troquei sua medicação, você vai ter mais duas horas de lucidez amanhã e depois de amanhã, perto do meio-dia. Mas eu não posso voltar aqui. Só temos essa chance.
O olhar dele firmou-se novamente.
- Eu consigo.
- Está bem.
- Há mais quantas pessoas presas aqui?
Pathé enxugou as lágrimas.
- Só você. Eles construíram tudo aqui apenas para te manter preso. Não é um presídio. Na verdade, é um complexo militar criado apenas para impedir que você fuja. Você tem que nos esperar. São mais de 500 militares com ordens pra te matar caso você tente fugir. Incluíram uma pauta. O Conselho a aceitou. Ela autorisa que te executarem, em tentativa de fuga.
James respirou fundo. Parecia que apenas seus olhos e pulmões tinham vida.
Pathé levantou-se.
- Tenho que ir.
Foi até a porta, para esconder-se da próxima fotografia da câmera. Temia que James não tivesse entendido nada do que falara. Saiu, e então ouviu sua voz:
- Pathé... sinto saudades de nós.
Ela se contraiu, se curvou, voltou a chorar em silêncio. Ainda precisava deixar o presídio, deixar o corpo de Sarah em segurança. Mas agora percebera que James estava voltando. Refez seus cálculos de previsão. Teve uma certeza parecida com fé. Sabia que em mais 3 ou 4 dias, todos os Titãs estariam reunidos mais uma vez.
- James, todos estamos com saudades de todos nós.


Postagens mais visitadas deste blog

A Sorte

Carol

A VERDADEIRA