Mesa 14

 O quanto se pode esperar de alguém, de algo ou de uma situação?

Talvez a pergunta certa seja outra: deve-se esperar? Esperança é algo que está em nós. Não no ser que esperamos. Podemos depositar cada vez mais fé naquilo. Retirar fé. Ou nos retirar.

Sou partidário da ideia de que enquanto houver esperança, vale à pena lutar. Seja qual for a luta: luta que peça braveza, companheirismo ou paciência.

Mas quem há de discordar que existe um limite para nossas forças?

1380 dias foi meu limite.

Eu achava que seriam eventos que me diriam até quando esperar, mas foi uma percepção interna que me o fez. A quantidade de dias foi um mero viés de confirmação racional.

O que me fez abrir mão e seguir em frente?

Quantos pacientes, em momento de contratransferência não ouviram meu lamurio: "Me sinto uma mesa de restaurante em que uma garota mandou colocarem a placa 'reservada'. Há algo de mais nisso? Talvez não. Não fosse que ela fez isso sem saber quando se sentaria à mesa e sequer se um dia se sentaria àquela mesa."

Isso me veio aos fins dos 43 e próximo à virada dos 50 anos.

Aqui veio a percepção do que é esperar e esperança. Minha boca nunca quis pedir uma promessa mais sólida. Mas minh 'alma esperava: 

"Está aqui minha prova de que acredito no nosso futuro!"

Um ato, qualquer que fosse, nunca veio.

Do lado dela, o que há? Sofrimento, esperanças e outras lamúrias? É provável. Alguém quem lhe deu colo, como eu esperava, e que lhe vai servir por uns dois anos? Talvez. 

Mas isso é suficiente para cegá-la para o que eu sentia? Aqui há algum componente a mais: ou algo de que não sei, ou uma formação narcísica que não consegue enxergar além da porta de seu quarto.

Todos sentimos. O sentimento de nenhum ser pode se sobrepor ao de outro, principalmente por não saber o que esse outro sente.

Mas a placa de "mesa reservada" me perseguiu por muito tempo. Nem uma porra de buquê de flores ou um pedido de "aguarde mais um pouco" a mesa recebeu. Ficou o quê a mesa? A noção de que ela era apenas um objeto para servir aos caprichos de uma convidada apática.

Dias sozinha, vendo outras mesas ocupadas. Noites sem companhia. Uma força que dizia "ela precisa deste apoio neste momento!" Momentos em que a própria convidada, perdida em suas dores, não se preocupava em dizer à mesa o porquê da demora. Será que ela sentia prazer em imaginar a mesa sofrendo, já sabendo que nunca compareceria? Será que, presa em suas limitações, se comprazia em causar sofrimento àquilo que lhe esperava?

Perguntas sem respostas. Apenas sei que o bobo não é mais da boba. Não há mais trovadores.  O tigre venceu, o urso sai de cena e a coelha que se farte com o que conseguiu. Foram 11 anos para aprender. Cada um dos 3 que tenha aprendido sua lição. O urso aprendeu a duvidar de palavras que são só palavras. Os outros dois que lidem com suas culpas e crimes.

A placa "reservada" foi retirada. A mesa se tocou que não é mesa e a convidada...

...convidada foi a não mais se apresentar.

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