A Música Parou

 Foi assim que o baile acabou e o salão se esvaziou quando a música acabou.

O que era uma dança virou solidão, o que eram sussurros ao pé do ouvido viraram silêncio e o que era sorriso virou uma máscara. Uma máscara velha e muito bem feita, que a todos engana. Mas não engana a mim, que tenho que lidar com o sujeito atrás dela.

Mas a música parou! E o que era um salão de baile virou um picadeiro de circo abandonado e mal iluminado, com um velho palhaço em seu centro, observando cadeiras vazias com uma maquiagem fria de sorriso forçado, enquanto por trás impera uma tristeza parada no tempo.

Ele olha para as cadeiras vazias procurando platéia?

Não.

Ele procura pela arlequina que com ele dançava. Não fazia mal que ele não pudesse a tocar ou ver, mas o machucava muito que...

... a música havia parado!

De forma trágica, feia, horrenda e difícil de entender.

Agora o palhaço parapatético anda pelo palco, em busca de nada. Ele já não quer encontrar algo. Ele já perdeu o que queria. A alegria foi embora com a arlequina, quando a música parou.

Lembrou-se de São Filomeno e em seu semi ateísmo ajoelhou-se, ergueu os olhos e disse sozinho:

- São Filomeno, leva meu pedido até a arlequina? Diz a ela que eu a deixo em paz em troca de uma última dança?

Vai depender do santo e da arlequina se esse conto terá um fim. O palhaço quer muito voltar a escrever e fazer sorrir como antigamente fazia.

Ele deu um suspiro, se levantou e caminhou cabisbaixo para a saída da tenda, para dormir em seu velho trailer.

Antes de pôr o primeiro pé para fora, uma lufada de vento invadiu a tenda e a inflou. A lona balançou e três lâmpadas se tocaram. O tilintar de uma pequena música se iniciou e se encerrou.

O palhaço levantou a cabeça e sorriu por dentro. Pensou:

"Pode ser que eu ainda escute a música..."

Postagens mais visitadas deste blog

A Sorte

Carol

A VERDADEIRA