Pendente Amor Trágico
Eu observo o andar da vida das pessoas e faço uma anotação especial sobre algumas: se ela é meramente "pós adolescente" na forma de se relacionar amorosamente ou se já é "adulta".
Ambas tem seus sofrimentos e benefícios. Mas o que eu diferencio nelas é a casca ao redor do coração.
As pessoas "pós adolescentes" tendem a gostar muito da outra pessoa e a sofrer demais quando terminam. Não há casca alguma.
As pessoas "adultas" tendem a tomar mais cuidado para não se apaixonarem por alguém. Ficam em relações banais e superficiais e procuram se afastar se a coisa ameaça ficar séria. Há a tal casca.
As duas tem suas razões para se portarem como se portam e isso não é novidade:
Os pós adolescentes sentem diversas emoções pela primeira vez. Boas e ruins. Com o tempo, se sofrem muitas vezes, a casca ao redor do coração começa a se formar.
Mas não é sobre isso que eu quero falar. É apenas o preâmbulo para explicar como me sinto.
Criei a tal casca já tem muitos anos. Uns dez. E minha vida vinha tranquila e feliz. Não me preocupava com nada, não me fazia falta ter uma família - não sei bem o que foi minha família em minha infância, mas não foi algo que me traz nostalgia, então não sei se tem haver com esse "não saber na pele o que é uma família".
Mas eu estava feliz. Nada me faltava.
Ao menos eu achava...
De alguma forma, eu conseguira driblar o desejo de estar com alguém que fosse minha companheira. Alguns truques eu sabia claramente que vinha usando. Mas a coisa vinha funcionando tão bem que eu não percebi que devia haver algo de errado em um resultado tão bom.
E foi então que o capiroto me fez ter um encontro inesperado. Me refiro ao coisa ruim porque se houverem seres além de nós no universo, um benevolente não faria isso. Ele não cometeria a maldade de colocar uma pomba gira no meu caminho!
E aí, eu, velho de guerra, pronto para batalhas mas pensando que encontrara a paz, me peguei amando alguém, apesar do meu coração blindado. Como ela passou pela couraça? Prefiro não falar sobre isso. Mas me pergunto se a analogia com proteções contra entrada podem ter o mesmo sentido quanto à saída. Será que depois que adquirimos a casca, ao amarmos alguém, fica mais difícil de tirar essa pessoa de lá de dentro?
Fico agora me perguntando: de que adiantou tantas barreiras, tanta proteção, tanto resguardo, se agora estou sentindo dor mais forte do que senti lá quando tinha coração "de pós adolescente"?! Será que eu virei uma nova classe de pós adolescente, mas agora com um coração com casca, ou sempre me enganei? Será que eu sempre acreditei em amor eterno e de alguma maneira consegui me auto programar para não aceitar isso como real?
...quase não terminei o conto. Levantei para beber água, tropecei em um fio e minha cabeça passou a um centímetro do balcão de mármore! Ainda não tinha dado salvar no texto! Será que alguém pensaria em ver o que estava escrito no notebook lá pelo terceiro dia de minha ausência no mundo? Vida besta! Em um momento você está tentando abrir o peito e vem ela e tenta te rachar a cabeça...
Continuando, quais outras alternativas podem existir? Eu sei que meu coração não voltou a ser "pós adolescente" e nem perdeu a couraça, por razões que não quero expor aqui.
O que resta então saber?
E o que me resta?
Já disse para uma pessoa uma vez que aceitaria suas migalhas. Hoje sei que não mais me permitiria contentar-me só com isso.
Mas o que eu sei? Até outro dia pensava que nunca mais sofreria...
Anotações mentais: mais cuidado com fios pelo chão. E mais cuidado com quem se ama.