A Dor
Pode vir direta. Pode ser furtiva. Pode ser física, mental, espiritual ou até moral. Pode ser intermitente ou direta.
Pode ser tão intensa que se sobreponha a outros sentidos. Pode ser ainda mais intensa, e por em dúvida a vantagem de existir.
Mas sentir dor também é sinal de estar vivo. E, enquanto se está vivo há esperança.
Mas há uma dor muito específica que era mais comum nas antigas guerras, quando a comunicação era difícil e lenta. Quando a família, mãe ou esposa ficava meses em suspenso, sem saber se seu amado combatente estava vivo ou não. Se voltaria ou não. E com o detalhe mais cruel: em cada minuto imperava a incerteza. O marido ou filho se tornava uma espécie de gato de Schrödinger. Sem contato, sem ouvir sua voz, sem alguém para dizer "Ele está incomunicável, mas bem, dentro do possível." Como essa dor deveria ser lancinante...
Reza a lenda que Franklin Roosevelt, ao ser informado da morte de três dos quatro filhos de uma americana durante a Segunda Guerra, autorizara uma missão de busca ao quarto filho. Ainda que colocando em risco a vida de soldados que não estavam em sintonia com os outros que buscavam sufocar Berlim, sua decisão não se amparava apenas no desejo de que aquela mãe recebesse ao menos um dos filhos vivos. Se baseava também em um precedente: quase cem anos anos, em situação semelhante, Abraham Lincoln havia expedido uma ordem similar.
Por que essa preocupação, diante de tantos outros mortos certos? Por que em alguns momentos, uma vida específica se torna mais especial? Eram aqueles dois homens de alguma forma mais importantes que os outros?
Não eram aqueles dois soldados que eram especiais. É a nossa necessidade de preservar o que há de humano em nós mesmos.
"Aquele que salva uma vida, salva a humanidade."
Essa frase guarda a chave: a humanidade que é salva é aquela presente em quem salva.
Mas esses são os casos poéticos e lendários. Nem sempre a vida concorda em seguir com esses planos. E há aqueles que permanecem com a caixa fechada, sem sequer poder chacoalhá-la para verificar se o gato está vivo.
Como trazer alento a estes?
Realmente, eu não sei...