As Solidões
Há a solidão dos que perderam. Esta pode afligir gente nova e gente velha. Basta ter alguém e a perder definitivamente. Uma ferida se forma e o luto que vem com ela pode durar mais ou menos tempo. Se suportada e interpretada em sua evolução de forma satisfatória, pode servir como aprendizado e um dia ter sua dor relativizada.
Mas há uma solidão bastante cruel que é uma sem nome específico para nós. Ela se apresenta quando estamos sós e esperando por uma incógnita. Se espera por algo que não se sabe se virá, se suporta uma dor que não se sabe se passará ou por alguém que não se sabe se chegará. Ela é semelhante à dor que aflige aqueles que o bom senso não lhes permite ter fé completa em alguma existência após a morte e ao mesmo tempo não põe um ponto final na possibilidade de o último suspiro ser o fim.
A pessoa precisa pensar mil vezes antes de se permitir passar por essa solidão sem nome, pois ela pode amargurá-la diariamente em seu âmago e cada novo momento sozinha vai servir para fazê-la acreditar mais um pouco que estava errada em tê-la aceitado. Talvez a pergunta mais importante à fazer sobre se deve ou não aceitar passar por ela é se perguntar: haverá sempre um fio de esperança por aquele aguardo? Ao menos haverá uma voz que a ouça e lhe ecoe que há chances de tudo aquilo não ser apenas uma ilusão? Se isto não houver, é uma batalha contra moinhos de vento imaginários sem uma Dulcinéa à espera. O que se pode ter dela é apenas a perda do juízo que afligiu o cavaleiro da triste figura.
Mas no mundo real, pode haver saída? Pode ser necessário que a pessoa encarnando o cavaleiro se pergunte se ela não se fechou em seu próprio mundo e esqueceu a dor da musa? Deve ela se perguntar se a dor dela é tão grande que a cegou para o sofrimento alheio? Poderiam ambos se perguntar se aquela dor não seria menor se dividida?
Anseio sem resposta...