Carbúnculo
Carbúnculo
O homem caiu de cara contra a terra seca. A poeira subiu,
sua boca sangrou. Um dente do fundo da arcada quebrou. Sentiu ânsia e a
engoliu. O ombro direito se deslocara, a rótula de seu joelho estava solta. A
cartilagem de seu nariz se rompera. Viu seus óculos quebrados ao longe. Aquilo
era o que mais o agoniava. Mas era o menor de seus problemas. Sentia o calor do
hálito do demônio – aquele da Bíblia – em suas costas.
- Hoje vou arrancar sua espinha pelas costas, homem. Como
você tentou fazer comigo.
O homem logo se voltou de frente para o diabo.
- Questão de orgulho me derrotar, não é, Capiroto?
-Sim. Sabeis que não posso nada te fazer enquanto me olhar
nos olhos. Nosso pai bastardo fez eu e ti assim. Mas hoje eu te pegarei pelas
costas.
O homem cambaleava sem tirar os olhos do demônio.
- Te conheço, Sinistro. Pegar por trás é seu forte. Melhor
dizendo, o momento em que você consegue ser forte. Sei que assim que lhe der as
costas, você aproveitara e as rasgará.
- Raciocínio completo, homem. Perfeito. Estás de parabéns.
Eu te aplaudo.
- É a primeira vez que bate palmas para um espelho, Besta?
A respiração do Tinhoso falhou. Suas palavras não saíram da
fuça. Suas garras se enterram em sua própria carne. A última coisa que viu foi
o homem com sua espinha esfacelada e ensanguençada em sua mão.