Eu não sei nadar
Aural olhou para o outro lado. Ouvia o som de correntes se
arrastando. Olhou para a lagoa, olhou para o túnel atrás de si. Não tinha pra
onde fugir. Viu os dois soldados aparecerem no túnel à esquerda. Eles arrastavam
correntes. Pararam e a olharam.
Ucrem surgiu. Olhou para ela e exalou seu hálito. Ela foi
intoxicada. Fechou os olhos e esperou pelo pior.
O Sr. R surgiu do mesmo túnel que ela. Foi intoxicado. A agarrou
e a jogou no ombro. Correu em direção a lagoa.
- Vamos ter que usar nossas pomadas.
- Eu emprestei a minha ao Baldo”.
Ele parou e olhou de novo a Ucrem. O ar estava quente, a
lagoa a um passo. O dragão exalou novamente seu cheiro.
- Eu não sei nadar, senhor.
- Eu sei.
Em seguida a jogou na lagoa. Sacou a espada e deu dois
passos em direção ao dragão. O ar fedia.
- Sua espada não penetra a pele dele!
Ele voltou para perto da lagoa. Olhou as pedras no teto do
túnel.
- Um de vocês dois, ou esse dragão doente, são há prova de
fogo?
Bateu a espada no topo do túnel. Apareceu uma faísca e o ar
se incendiou. Ele se jogou na lagoa.
Deixara a espada. Encontrou Aural no fundo e nadou a
carregando até a saída para a floresta. Estavam intoxicados. Não viveriam muito
tempo sem a pomada. Ele a jogou na terra. Estava quase desmaiando. Sabia que
devia cuidar de si e depois dela. Pegou o frasco de pomada, rasgou a própria
camisa e a colocou na palma da mão. Um líquido vermelho, gosmento, nojento, mas
que o salvaria.
O olhar dele se desviou e ele viu o corpo de Baldo a alguns
metros. A tontura era enorme. Ele sentia o coração acelerado. Sabia que eram
segundos pra desmaiar. Tinha que aplicar a pomada em seu peito e correr até
Baldo para salvar Aural. Sabia que se salvaria, mas Aural não teria tempo.
Olhou para ela. Com a mão esquerda, virou a cabeça dela em
direção ao corpo de Baldo. Queria ser delicado, mas o tempo era curto. Rasgou a
frente do vestido dela e esfregou a pomada sobre o coração dela. Esfregou até
perder as forças e desmaiar sobre ela.