Robinson Bendassoli

 Eu estava saindo da academia de noite e recebi uma mensagem dela: - Compra pão e salmão antes de vir para casa? - Sério? Está a maior chuva... - Eu lembrei de uma vez que a gente fez lanche de salmão com pão e me deu vontade de comer. Compra para gente, por favor? Parei no mercado, comprei o que ela pedira e uma caixa de bombons. Coloquei tudo em sacolinhas duplas, pois estava sem guarda-chuva. Cheguei em casa, guardei o carro na garagem e vi minha esposa abrir a porta e se espantar ao me ver todo molhado. - Você tava sem guarda-chuva no carro, amor? - Eu lembrei de manhã que você havia comentado que tinha perdido o seu. Antes de sair, tirei o do meu carro e coloquei no seu. - Seu fofo! Eu tinha outro no trabalho... - Eu devia ter te perguntado. - Eu vou encher a banheira para você, tá? - Tá bom. Enquanto isso eu preparo os lanches pra gente. Momentos depois cheguei na porta do banheiro e a vi com a mão dentro da banheira, testando a temperatura da água. Não resisti. Coloquei o pr...

Há a solidão de sentir-se sem lugar no mundo. Essa é aquela que aflige a pessoa jovem que olha para dentro de si e ainda tem pouco formado. Ela busca direções e desejos, ao mesmo tempo que busca ser compreendida. Esta solidão vai perdendo força conforme se amadurece. Alguns vazios são preenchidos, outros se descobre que jamais o serão e o apetite pelo desconhecido dá conta de os satisfazer. Há a solidão dos que perderam. Esta pode afligir gente nova e gente velha. Basta ter alguém e a perder definitivamente. Uma ferida se forma e o luto que vem com ela pode durar mais ou menos tempo. Se suportada e interpretada em sua evolução de forma satisfatória, pode servir como aprendizado e um dia ter sua dor relativizada. Mas há uma solidão bastante cruel que é uma sem nome específico para nós. Ela se apresenta quando estamos sós e esperando por uma incógnita. Se espera por algo que não se sabe se virá, se suporta uma dor que não se sabe se passará ou por alguém que não se sabe se chegará. Ela é...